quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Segunda de manhã, ainda de camisola, olho-me no espelho e vejo-a. Está sorrindo e imitando meus gestos. Lá está uma garotinha, gordinha, bochechuda e com um sorriso no rosto, a fitar-me.
Olho espantada o espelho procurando respostas, mas a imagem apenas sorri. Tento tocá-la e ao encostar sua mãozinha na minha, sinto apenas o frio do espelho. Ficamos paradas, as duas, observando-nos. Eu, emocionada pelo passado, pela criança que fui. Ela, admirada, com a pessoa a qual se tornará daqui a dez anos.
Não recordava-me de ser tão inocente, tão pura, tão singela. Quem dera guardar isso tudo eternamente comigo!
Mesmo caladas, entendemo-nos. Eu, querendo entrar no mundo do espelho e tomar o seu lugar, que um dia fora o meu; quando tudo era fácil, simples e a maior dor sentida era apenas de arranhões causados pelas brincadeiras. Ela, querendo sair e substituir-me, querendo crescer, ter direitos, vontades próprias. Tenho vontade de falhar-lhe dos problemas, mágoas e tristezas do crescimento. Onde arranhões fazem apenas cócegas e carinho no coração. Mas para que destruir-lhe o sonho? A esperança? Para que roubar-lhe a inocência que há muito perdi?
Deixei-a assim, na ignorância do que é dor. Para que aprender certos conceitos agora? Que Deus a conserve livre de tudo e de todos! Talvez vendo o peso de mais dez anos, percorra um caminho diferente e tenha outra imagem; mais alegre, mais viva. É, talvez. Talvez daqui a dez anos eu descubra.

5 comentários:

  1. Lindo texto, Natália.
    Gostei muito.
    Um bom tema também.
    Seja bem-vinda, continue a postar e Parabéns!

    ResponderExcluir
  2. Às vezes eu tb me vejo olhando para uma menina q antes eu fui e q sou tão pouco hj...é estranha essa oposição de vontades "querer crescer" x
    "querer voltar no tempo depois"...mas isso é a vida. Quem dera pudessemos viver na ignorância de saber o q é dor...

    Parabéns pelo texto, Nath!!!!
    :)

    ResponderExcluir
  3. Que lindo!
    Adoro essa temática!
    A metáfora doe spelho foi muito boa!
    Parabéns!

    ResponderExcluir
  4. Muito bom texto e boa temática também. E (aliás!) me lembrou bastante a cena em que acontece quase o mesmo com a personagem principal de "O Mundo de Sofia". Parabéns!

    ResponderExcluir