quarta-feira, 8 de julho de 2009

Memórias dos meus antigos devaneios.

Os segundos se diluíam v-a-g-a-r-o-s-a-m-e-n-t-e. Toda a sala, todas aquelas pessoas, toda sua vida a sufocavam. Sabia ter a necessidade de gritar e de rasgar aquela pele que lhe impedia de ser quem ela queria ser.
Afinal, de que lhe valiam aqueles olhares, aqueles sorrisos, todos falsos, todos ilusão.Tinha 30 anos.E o que ela fez?Nada!

A família que ela tanto prezava pela qual lutara. Agora, nem vestígio sobrava. Tudo acabara como a brisa que toca os cabelos da moça na madrugada fortuita.
Então ela pegou sua bolsa e saiu. Não tinha mais nada, nem queria mais nada. Um carro na rua tocava Chico, que nessa música falava do moleque que rege nossas vidas. Isso é, para alguns...
Um velho lhe deu bom dia. Tão inesperado quanto o cego de Clarice, mas nem isso provocou nela a humanização que já tinha.
Ela chegou em casa e pegou o álbum de fotografias antigas.Estavam todos lá.Toda a família com a felicidade plastificada!E se ela tivesse feito as coisas diferentes? Se não tivesse se casado com aquele homem?Não tivesse tido aqueles filhos?Afinal, quem foi que disse que ela queria tê-los?

Será que por isso fora castigada com aquele mal que lhe destruía minuciosamente o corpo e a aparência, coisa tão importante?Ou por não ter seguido a carreira eclesiástica?Pronto!Estava decidida: Se curada desse mal seria freira!E o convento a aceitaria?Bom, isso não faria diferença, já que a vida não a aceitara antes.
Pegou uns comprimidos e foi dormir. Um sono leve e reconfortante. Uma quase-morte.

Um comentário:

  1. Muito bom. Tem boas influências, características pós-modernas notórias e uma boa dose de concretismo. Seu estilo lembra bastante Lygia Fagundes Telles.

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